A chegada do segundo semestre, em especial do último trimestre do ano, volta nossa atenção para um velho conhecido: o planejamento estratégico para o ano que se inicia. Analisamos o que de fato foi colocado em prática do planejamento anterior, entendemos o que ainda é possível concretizar e priorizamos o que está por vir. É claro que a equação não é tão simples.
Planejamento estratégico
Se antes já era difícil elaborar um planejamento anual com definição clara de metas, etapas estratégicas e compatível ao fluxo de caixa, agora há um novo “porém”: esse planejamento possivelmente ficará ultrapassado em um intervalo de tempo menor do que os anteriores e precisará de atualizações sequenciais. Isso acontece porque vivemos em um mundo em que as mudanças passaram a ocorrer em uma velocidade extremamente acelerada.
Não faz muito tempo, estive aqui no blog falando sobre o mundo VUCA, suas incertezas e como as metodologias e ferramentas de Inteligência Artificial (IA), impulsionadas por Advanced Analytics, seriam como um holofote iluminando caminhos para as melhores decisões. Se naquela ocasião eu tratava das particularidades que a pandemia nos apresentava e como oportunidades poderiam surgir mesmo em tempos mais críticos, arrisco dizer que pouco mudou.
É fato que os desafios que vão se impondo podem ser diferentes. Afinal, são meses decorridos do início do isolamento, o processo de digitalização já foi incorporado em grande parte das organizações e modelos de trabalho híbridos agora fazem parte do nosso dia a dia. Reflexo disso é que o próprio termo para se referir ao período agora é outro: vivemos no mundo BANI (vou detalhar abaixo).
Inteligência Artificial
No entanto, quando pensamos em como reagir a esse cenário, a resposta me parece a mesma: soluções baseadas em inteligência artificial continuam sendo ferramentas que permitem aos gestores planejar e tomar decisões não mais pautadas em métodos empíricos, mas sim em dados e indicadores fundamentados.
E é por essa razão que uma solução baseada em inteligência artificial precisa ser considerada no planejamento estratégico para o próximo ciclo de uma empresa, por permitir simular e construir cenários aderentes e que consideram as variáveis que impactam diretamente no negócio. Mesmo quando estamos inseridos em um contexto que continua incerto e propício às mudanças.
O que é o mundo BANI?
O termo BANI foi criado antes da Covid-19, em 2018, pelo antropólogo, autor e futurista norte-americano Jamais Cascio, mas ganhou projeção de fato durante a pandemia, com a aceleração da transformação digital.
Na minha percepção, esse acrônimo veio para substituir — ou “atualizar” — o termo VUCA. Não que o mundo tenha deixado de ser volátil, incerto, complexo e ambíguo, mas agora as pessoas têm uma nova percepção sobre as mudanças que aconteceram.
Elas alteraram sua compreensão do ambiente e das relações de negócios para frágil, ansiosa, não linear e incompreensível. O que é verdade hoje, deixa de ser amanhã. Como é possível, então, tomar decisões? A seguir proponho uma análise do termo BANI e seu contraponto com a inteligência artificial.
B > brittle = frágil
A volatilidade do mundo VUCA atingiu um grau tão extremo que agora tudo é frágil e sem robustez. A nova palavra de ordem é a impermanência. Não há mais segurança, qualquer mercado pode estar prestes a se romper. Até mesmo sistemas e planejamentos aparentemente fortes não são sólidos e a pandemia veio para nos mostrar isso.
Se as empresas estão cada vez mais expostas a riscos, é preciso que estejam preparadas para mudanças repentinas, para tomadas de decisão rápidas e certeiras. As ferramentas analíticas baseadas em inteligência artificial dão grande apoio a esse momento de fragilidade por contarem com três funções:
- Identificação do cenário atual com a melhor política de ação
Isso significa avaliar as capacidades da empresa, comportamento de mercado, demandas previstas, estoques, base de clientes, características dos profissionais envolvidos, entre outros fatores, e combinar variáveis para a tomada de decisão. A inteligência artificial pode sugerir ações como atender a determinado mercado, estocar uma matéria-prima (“carrego”), movimentar um produto intermediário entre as plantas ou fazer o fluxo dos produtos de maneira interestadual para conseguir benefício tributário, entre tantas outras indicações.
Mas, em um mundo volátil (VUCA) e frágil (BANI), provavelmente esse planejamento vai sofrer alterações: a demanda pode ser diferente, a matéria-prima pode não chegar na data prevista… É quando a inteligência artificial ganha outra função.
- Antecipação dos problemas e simulação de situações
Ao mesmo tempo em que a inteligência artificial sugere um plano de ação baseado no cenário original, elas também já apontam possíveis dificuldades. Por exemplo: um gargalo produtivo em tal recurso, a falta de matéria-prima para atender uma demanda, limitação na disponibilidade de veículos, etc.
Com essa antecipação, a inteligência artificial faz simulações para que a empresa consiga mudar sua política de ação sem esbarrar em gargalos e limitações já apontados.
- Reação frente a imprevistos
Diante de contratempos não previstos, a inteligência artificial trabalha para orientar uma nova política de ação imediata que responda às mudanças praticamente na mesma velocidade com que elas aparecem. Com isso, minimiza os impactos que são, na maioria das vezes, negativos.
A > anxious = ansioso
A ansiedade já existia em um cenário original em que havia falta de clareza para a tomada de decisão, mas a ciência da fragilidade e a falta de robustez gerou um cenário ainda maior de insegurança e impotência diante das mudanças.
O sentimento ficou mais latente e caracteriza o mundo BANI justamente porque a ansiedade é o “desconhecimento do que vai acontecer”. No entanto, o uso de inteligência artificial, ao permitir fazer antecipações, reduz a incerteza e, consequentemente, a ansiedade.
Quando a empresa e os gestores estão cientes de que a matéria-prima não vai chegar daqui a dois meses e de que não será possível atender a determinado mercado, por mais desafiador que seja, é possível tomar decisões com menos ansiedade. Isso porque o desconhecido se torna conhecido e é possível reagir mais rapidamente a essa mudança. Mas não é só essa a vantagem da inteligência artificial.
A otimização matemática, uma das frentes da inteligência artificial, tem como premissa entregar a melhor resposta possível para o novo cenário que se estabeleceu. Como a ferramenta permite simulações em segundos — no máximo minutos —, é possível criar uma curva de cenários que representem todos os riscos e com isso, encontrar a prescrição de ação correta em cada situação.
N > nonlinear = não linear
Não há mais uma conexão clara entre causa e efeito, tampouco entre começo, meio e fim. No mundo BANI, há vários efeitos e é preciso estar preparado para avançar e retroceder quantas vezes forem necessárias. Criar planejamentos de longo prazo empiricamente não faz mais sentido.
No mundo empírico, há um número limite de variáveis que não são suficientes para responder a questões como “qual será minha demanda?”. Não é possível tampouco prever em qual variável a empresa deve investir mais energia e esforço.
Essa limitação praticamente desaparece quando o tratamento correto é suportado por inteligência artificial. Ela tem uma natureza exploratória e consegue identificar o peso das variáveis e as correlações mais adequadas.
Ou seja, a inteligência artificial têm a capacidade não humana de combinar e tratar simultaneamente um grande conjunto de variáveis diferentes.
I > incomprehensible = incompreensível
Informação é o “novo petróleo”. Ainda assim, o excesso dela é responsável pela ansiedade e abre margem para a chamada incompreensão. A verdade é que antes não havia informação suficiente, hoje há demais.
E elas correm tão frequentemente e com tanta rapidez que muitos simplesmente não sabem o que fazer com elas. Pior: às vezes são investidos energia e esforço em variáveis que até são importantes, mas não produzem resultados — e as que trariam valor ao planejamento acabam sendo negligenciadas.
No entanto, o que não pode ser visto a olho nu dificilmente passa em branco pelo radar da inteligência artificial. Principalmente as soluções mais preditivas e diagnósticas. Elas conseguem olhar para o volume de dados e transformar as informações em tomadas de decisão.
O mundo BANI — e até mesmo o VUCA — nos mostra que tem sido cada vez mais complicado trabalhar sem mecanismos de inteligência computacional. Mas, é importante salientar que Inteligência Artificial só “aprende” se ela for “ensinada” com os dados corretos. Mais do que isso, eles precisam contar a história que você precisa para sua empresa.
Além disso, a Inteligência Artificial tem que ser combinada à inteligência natural para que o algoritmo consiga navegar facilmente pelo seu negócio, tanto que sempre batemos na mesma tecla dos 4 pilares fundamentais à jornada analítica: pessoas, processos, ferramentas e dados.
Uma coisa é certa: contar com inteligência artificial em um cenário tão incerto como o atual é fundamental para o planejamento e para a tomada de decisão. Hoje é um diferencial competitivo, amanhã será questão de sobrevivência às empresas.
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Luciano Moura é Mestre em Engenharia Elétrica e Bacharel em Matemática Aplicada e Computacional pela Unicamp. É sócio e diretor Comercial da UniSoma.